domingo, 22 de maio de 2011

Secos e Molhados - 1973


Lançado em 1973, o primeiro disco dos Secos e Molhados trazia uma musicalidade que bebia tanto da Tropicália como do Clube da Esquina, em um flerte intenso com a música latino-americana e com o rock progressivo, claramente perceptível em praticamente todas as faixas do álbum.

Com uma musicalidade simples – sem maiores preocupações harmônicas e complexidade melódica e/ou rítmica – mas, ainda assim, bem elaborada, os compositores João Ricardo e Gerson Conrad, junto com seus parceiros, apresentaram neste disco de estréia canções curtas e melodiosas que logo cativaram um público considerável, de modo que o disco vendeu cerca de trezentas mil cópias e projetou nacionalmente o grupo, que passou a fazer muitas apresentações pelo Brasil e, posteriormente, pelo exterior.

Em suas apresentações ao vivo, os Secos e Molhados destacaram-se pelos desempenhos teatrais, irreverentes e ousados e pelas suas maquiagens extravagantes, que condiziam perfeitamente com sua atitude e com suas músicas, que em geral tinham letras sarcásticas, além de bastante poéticas.

Outro grande destaque do grupo foi, sem dúvida, a revelação de Ney Matogrosso, um dos maiores intérpretes modernos da música brasileira, dono de uma voz incomum e de uma sensibilidade interpretativa notável. Ney passou apenas dois anos na formação dos Secos e Molhados, partindo depois para uma carreira solo muito bem sucedida e longeva, que rende bons frutos até os dias de hoje.

Se, à época do seu lançamento, o álbum de estréia dos Secos e Molhados foi bem recebido pelo público e por parte da crítica, hoje, mais de 30 anos depois de lançado, este disco ainda é considerado um belo trabalho, apontado por muitos como um dos cem maiores discos da música popular brasileira no século XX. Sua coerência estética, sua proposta neo-tropicalista de renovação e de assimilação de novos elementos musicais e sua grande aceitação por várias gerações o fazem, de fato, um álbum clássico da música brasileira, sobretudo de uma linhagem mais pop que a MPB seguiu a partir do final dos anos sessenta.

Os Secos e Molhados são, assim, uma das bandas que obtiveram os melhores resultados neste contexto de crescente assimilação de gêneros internacionais pela música brasileira, pois não simplesmente emularam ou importaram gêneros estrangeiros, mas lograram forjar um estilo próprio a partir da fusão de vários gêneros. Estilo que veio a influenciar artistas tanto de sua geração como de gerações posteriores, que reconhecem no grupo uma das principais referências da boa música pop(ular) brasileira.



(Denisson Ventura)



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