terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tropicalia Ou Panis Et Circencis - 1968


Mais do que um movimento musical, a Tropicália representou um movimento cultural, que abrangeu poesia, artes plásticas e cinema, tendo na música sua expressão maior. O próprio termo “Tropicália” (em vez de tropicalismo) foi criado por um artista plástico moderno – Hélio Oiticica, que fizera uma exposição com esse título em 1967. Caetano Veloso, que tinha composto uma canção-manifesto em 1967, pôs nesta o título criado pelo artista plástico.

Diversamente da Bossa-Nova, os tropicalistas não pretendiam renovar a música brasileira a partir da elaboração e sofisticação musical ou de qualquer proposta estritamente musical. Como era um movimento cultural e não só musical, a idéia dos tropicalistas era mudar a atitude na MPB e torná-la mais “liberal”, mais aberta a influências externas e mais atenta a valores do próprio Brasil.

Liderada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, a Tropicália contou com vários “associados”, que colaboraram com o movimento, cada qual à sua maneira, reforçando a própria proposta “anárquica” (e sarcástica) do movimento. Foram cantores, instrumentistas, arranjadores e poetas que aderiram à idéia de “universalização” da música brasileira através da assimilação de elementos internacionais e de elementos nacionais também – mas os que tinham sido descartados, por assim dizer, pela moderna música brasileira – numa adaptação da idéia de antropofagia cultural, do poeta e agitador modernista Oswald de Andrade.

Desse modo, pode-se dizer que este disco, o marco maior da Tropicália, é a síntese das idéias estéticas e musicais de Caetano Veloso e Gilberto Gil, acrescidas pelas valiosas colaborações de gente como os compositores e letristas Tom Zé, Capinan e Torquato Neto, das cantoras Gal Costa e Nara Leão, do grupo Os Mutantes e do maestro Rogério Duprat, além de todos que participaram indiretamente do disco, mas participaram diretamente do movimento.

Se Caetano foi o grande mentor intelectual do movimento, Gilberto Gil o foi musicalmente, já que possuía, reconhecidamente, uma musicalidade superior à de todos os músicos do movimento. Foi de Gilberto Gil toda a concepção de arranjos de base do álbum, que foi teve todas as orquestrações feitas pelo singular maestro Rogério Duprat, o mais tropicalista e um dos mais influentes maestros brasileiros de todos os tempos. Vale destaque sua participação nesse histórico álbum, pois todo o clima e ambientação que ele criou coadunaram-se perfeitamente com as idéias de Caetano e Gil, dando ao álbum uma sonoridade extremamente nova e rica.

Apesar de ter tido vida curta, tendo sua morte logo decretada pelo regime militar, a Tropicália revolucionou a música brasileira – não no aspecto estritamente musical, como já disse – mas no sentido de introduzir nesta uma mudança de atitude, uma atitude mais aberta e ao mesmo tempo mais crítica. Pode-se sentir até os dias de hoje a força e a influência dos tropicalistas, que fizeram a cabeça de músicos de várias gerações. E este álbum prova que sua proposta continua sempre nova e atual.



(Denisson Ventura)

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