quinta-feira, 9 de julho de 2009

Moacir Santos - Coisas - 1965



“Coisas”, de Moacir Santos, é um capítulo à parte na história da música brasileira. O título, simples e originalíssimo, representa bem o conjunto de músicas que compõem o álbum: dez peças musicais de extrema beleza e originalidade, tudo isso sem perder a singeleza. Sem dúvida, este álbum é um dos trabalhos mais importantes para a evolução da nossa música, sobretudo para a música instrumental, por toda a contribuição que deu a esta em termos de inovação, elaboração e beleza.

Ao ouvir “Coisas”, a impressão que se tem é que o disco foi lançado num dia desses, tamanha a sua modernidade e atemporalidade. Em tudo, o álbum é extremamente moderno: nos temas, nos arranjos, na escolha de timbres e naipes, enfim, um álbum perfeito e magistral.

Comprova esta impressionante modernidade o fato de todas as dez coisas terem sido regravadas em 2001, com os mesmos arranjos e instrumentações originais, num disco duplo em homenagem ao maestro (que ainda era vivo) intitulado “Ouro Negro”.

Lançado em 1965, “Coisas” é o primeiro álbum autoral do maestro Moacir Santos, que trabalhou durante quase duas décadas na Rádio Nacional, onde era o único maestro negro e, provavelmente, o mais original de todos. Antes de “Coisas”, além dos trabalhos na rádio como compositor e arranjador, Moacir trabalhou como compositor de trilhas em diversos filmes (como Ganga Zumba, Seara Vermelha, Os Fuzis etc.) e como arranjador em diversos álbuns, sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, sendo dessa maneira, um dos músicos mais importantes para a renovação da música brasileira nesse período.

Moacir Santos é um verdadeiro inventor musical, um maestro no sentido etimológico da palavra, professor de outros mestres da música brasileira, como Baden Powell, Dori Caymmi, Paulo Moura, Chiquito Braga, Roberto Menescal entre outros grandes nomes da MPB. O maestro faz parte de um “grupo” de músicos imprescindíveis para a renovação da música brasileira – cada qual à sua maneira e com sua musicalidade –, como Tom Jobim, Radamés Gnatalli, Luiz Bonfá e João Gilberto.

Mas Moacir é um caso à parte, já que foi o único que resgatou um tipo de música que estava relegado nessa época: a música afro-latina, que ele conseguiu, genialmente, amalgamar a outras influências, como o jazz, a música nordestina e a música erudita, formando um estilo de música impossível de classificar, rico, vigoroso e extremamente influente.

E é esta grande música, esta grande arte deste genial artista que se pode apreciar em “Coisas”, um álbum essencial na história da música brasileira.


Coisa No. 4
Coisa No. 10
Coisa No. 5
Coisa No. 3
Coisa No. 2
Coisa No. 9
Coisa No. 6
Coisa No. 7
Coisa No. 1
Coisa No. 8


(Denisson Ventura)


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sábado, 4 de julho de 2009

Milton Nascimento - Travessia - 1967


Milton Nascimento é, sem dúvida, o compositor mais original de sua geração, um músico que não seguiu nenhuma linhagem musical específica, mas criou sua própria linhagem e sua própria linguagem, ao mesmo tempo simples e complexa, densa e popular, acessível e extremamente expressiva. Como afirmou Caetano Veloso, Milton, sozinho, é um movimento musical. E em seu disco de estréia, o cantor e compositor já mostra que é um verdadeiro criador musical, do tipo que só surge raramente e que só poderia ter nascido no Brasil.

Gravado em 1967, mesmo ano em que Milton classificou três músicas no Festival Internacional da Canção, o álbum contou com a participação do Tamba Trio em todas as faixas e foi arranjado por Luiz Eça (líder do trio) e por Eumir Deodato, que fizera as orquestrações das três canções classificadas no FIC (Travessia, Morro Velho e Maria, Minha Fé).

Embora “Travessia” tenha ficado em segundo lugar no FIC de 1967, este ficou conhecido como “Festival de Travessia”, tamanho o êxito da canção de Milton e Fernando Brant, sobretudo entre os músicos e os críticos, que reconheceram na musicalidade de Milton algo plenamente novo, somente comparável talvez, em termos de originalidade, à Bossa-Nova à época de seu surgimento.

Este álbum, gravado pouco tempo depois da realização do FIC, é a ratificação desta musicalidade ímpar, já notada por músicos e críticos nas canções apresentadas no festival e em mais sete belas canções que se tornariam, em sua maioria, verdadeiros clássicos da música brasileira, algumas regravadas inúmeras vezes no Brasil e no mundo.

Mas não é só como compositor que Milton é original; o Milton cantor, o Milton intérprete também chegou para fazer escola, para indicar novos caminhos para o canto, equilibrando uma certa suavidade bossanovística com um vigor interpretativo sobremaneira novo, tudo isso junto a sutilezas vocais que ele aprimoraria ainda mais com o tempo e que influenciariam toda uma geração de cantores.

Apesar do grande prestígio que Milton adquiriu junto a músicos e a críticos depois do FIC e da gravação deste álbum, demorou um pouco para que ele se tornasse um músico realmente popular. E isso, de certo modo, é um atestado de sua grande qualidade artística: um músico idiossincrático, que não fez concessões em troca de sucesso imediato, mas preferiu aprimorar-se como músico e continuar fazendo seu trabalho com verdade e interesse puramente artístico.


1. Travessia (Milton Nascimento, Fernando Brant)
2. Três Pontas (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
3. Crença (Márcio Borges, Milton Nascimento)
4. Irmão de Fé (Márcio Borges, Milton Nascimento)
5. Canção do Sal (Milton Nascimento)
6. Catavento (Milton Nascimento)
7. Morro Velho (Milton Nascimento)
8. Gira, Girou (Márcio Borges, Milton Nascimento)
9. Maria, Minha Fé (Milton Nascimento)
10. Outubro (Milton Nascimento, Fernando Brant)


(Denisson Ventura)

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