terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Milton Nascimento e Lô Borges - Clube da Esquina - 1972



Se na década de 1960 a música brasileira ganhou o respeito e a admiração do mundo através do grande êxito da Bossa-Nova e de toda música que, de alguma forma, derivou das conquistas que este movimento trouxe, nos anos 70, graças à ousadia e inventividade de vários músicos e compositores das mais diversas tendências, a MPB consolidou-se como música extremamente rica, diversificada e universal.

Não há dúvida de que o movimento tropicalista (além da própria dinâmica sócio-cultural do mundo moderno e globalizado), contribuiu consideravelmente para uma abertura da música popular brasileira e para novas influências, inclusive e sobretudo internacionais, como por exemplo o uso de guitarras, que era mal visto pelos puristas e conservadores, pela identificação deste instrumento com o rock’n roll e com outros gêneros estrangeiros. Gêneros que não deveriam, para os mais conservadores, ser assimilados pela música brasileira, pois contaminariam sua suposta pureza. Mas esta assimilação seria, além de necessária, inevitável.

Assim, enfim suplantados (ou ao menos reduzidos) os preconceitos e resistências relativos a uma maior "universalização" da MPB, o terreno estava preparado para o surgimento de uma nova música e de novos estilos, alguns mais efêmeros e menos consistentes, outros completamente expressivos e transformadores, como foi o caso da música do grupo de compositores que fizeram parte do Clube da Esquina.

O Clube da Esquina foi, para muitos especialistas, o movimento musical brasileiro mais importante da segunda metade do século XX depois da Bossa-Nova, pois como esta e diversamente do Tropicalismo (ou Tropicália, como preferem os que fizeram parte do movimento), o Clube foi um movimento estritamente musical e extremamente inovador nesse sentido, uma vez que criou uma estética totalmente nova e original.

Originalidade é, decerto, a palavra que melhor caracteriza a estética lítero-musical criada pelos compositores e músicos do Clube da Esquina. Reunidos em torno da talentosa e generosa figura de Milton Nascimento, artistas como Lô Borges, Toninho Horta, Tavito, Robertinho Silva, Luiz Alves, Novelli, Naná Vasconcelos, Wagner Tiso, Nelson Ângelo, Beto Guedes, Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, entre outros grandes nomes, forjaram uma sonoridade única e instigante, ao mesmo tempo brasileira e cosmopolita, barroca e moderna, interiorana e urbana, simples e sofisticada. Sonoridade que causou imenso impacto em músicos de vários lugares e gerações e que só poderia ter se formado no Brasil.

Estes jovens músicos, compositores e letristas conseguiram criar uma estética revolucionária, que foi-se firmando desde o fim dos anos 60 a partir da força criadora de Milton Nascimento e tomou forma definitiva com o disco Clube da Esquina, lançado em 1972.

Concebido a partir da intenção de Milton de projetar a nova música mineira na cena musical brasileira de então, o álbum Clube da Esquina (o primeiro LP duplo da música brasileira, ao lado de Fatal, de Gal Costa) foi produzido de uma maneira bastante elaborada. e peciuliar. Tudo foi pensado de modo a dar uma coerência e criar mais do que um disco, mas uma obra conceitual, com uma proposta de verdadeira renovação estética. Desde a capa (que não tem, propositalmente, o nome dos artistas, mas apenas a foto de dois meninos anônimos), a seleção de repertório e a ordem das faixas, até a criação dos arranjos, tudo no álbum Clube da Esquina reflete muito o caráter gregário e coletivo de sua criação.

Ironicamente – mas como é comum no Brasil –, à época de seu lançamento, o disco não teve sucesso imediato, e alguns críticos desatentos e reacionários decretaram o fim da carreira de Milton Nascimento, já que se juntou a um jovem de 19 anos de idade e a vários outros jovens para fazer um disco experimental. No entanto, desde seu lançamento até os dias de hoje, quase quatro décadas depois, o álbum Clube da Esquina foi reconhecido, ainda que por poucos como revolucionário e mudou para sempre os rumos da moderna música popular brasileira.


(Denisson Ventura)





1. Tudo que você podia ser (Márcio Borges - Lô Borges)
2. Cais (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
3. O trem azul (Lô Borges - Ronaldo Bastos)
4. Saídas e Bandeiras nº 1 (Milton Nascimento - Fernando Brant)
5. Nuvem cigana (Lô Borges - Ronaldo Bastos)
6. Cravo e canela (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
7. Dos cruces (Carmelo Larrea)
8. Um girassol da cor de seu cabelo (Márcio Borges - Lô Borges)
9. San Vicente (Milton Nascimento - Fernando Brant)
10. Estrelas (Márcio Borges - Lô Borges)
11. Clube da Esquina nº 2 (Lô Borges - Milton Nascimento)
12. Paisagem na janela (Lô Borges - Fernando Brant)
13. Me deixa em paz (Ayrton Amorim - Monsueto)
14. Os povos (Márcio Borges - Milton Nascimento)
15. Saídas e Bandeiras nº 2 (Milton Nascimento - Fernando Brant)
16. Um gôsto de Sol (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
17. Pelo amor de Deus (Milton Nascimento - Fernando Brant)
18. Lilia (Milton Nascimento - Fernando Brant)
19. Trem de doido (Márcio Borges - Lô Borges)
20. Nada será como antes (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
21. Ao que vai nascer (Milton Nascimento - Fernando Brant)

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